O que é: Autoengano na dependência química
O autoengano na dependência química refere-se a um mecanismo psicológico pelo qual o indivíduo nega ou distorce a realidade de sua situação em relação ao uso de substâncias. Essa negação pode se manifestar de diversas formas, como a minimização dos problemas causados pelo uso de drogas ou álcool, ou a crença de que o controle sobre o consumo é possível, mesmo diante de evidências contrárias. Estudos mostram que esse comportamento é comum entre dependentes químicos e pode ser um dos principais obstáculos para a recuperação.
Pesquisas na literatura dos 12 passos de Narcóticos Anônimos (NA) e Alcoólicos Anônimos (AA) destacam que o reconhecimento do autoengano é um passo crucial no processo de recuperação. O primeiro passo, que envolve admitir a impotência diante da substância, é frequentemente dificultado pelo autoengano. A literatura acadêmica, incluindo apostilas de instituições como USP, UFMG e Unifesp, reforça a importância de abordar essa questão durante o tratamento, uma vez que a aceitação da realidade é fundamental para a mudança.
Os profissionais da saúde mental, como psiquiatras e psicólogos, identificam o autoengano como um sintoma de defesa que protege o indivíduo da dor emocional associada ao reconhecimento de sua dependência. Essa defesa pode levar a um ciclo vicioso, onde a negação impede a busca por ajuda e a adesão a tratamentos. A compreensão desse mecanismo é essencial para terapeutas que trabalham com dependentes químicos, pois permite desenvolver estratégias que ajudem os pacientes a confrontar suas verdades.
Além disso, o autoengano pode se manifestar em justificativas que o dependente cria para continuar usando substâncias. Frases como “Eu posso parar a qualquer momento” ou “Eu não sou como os outros que têm problemas com álcool” são exemplos típicos desse comportamento. Essas crenças distorcidas não apenas perpetuam o uso, mas também dificultam a percepção dos danos causados à saúde física e mental do indivíduo, bem como às suas relações sociais e familiares.
O tratamento do autoengano na dependência química muitas vezes envolve intervenções terapêuticas que promovem a auto-reflexão e a conscientização. Técnicas como a terapia cognitivo-comportamental (TCC) são eficazes para ajudar os pacientes a identificar e desafiar seus pensamentos distorcidos. Através desse processo, os indivíduos podem começar a ver a realidade de sua situação de forma mais clara, o que é um passo vital para a recuperação.
Os grupos de apoio, como os oferecidos por NA e AA, também desempenham um papel importante na desconstrução do autoengano. A partilha de experiências entre os membros permite que os indivíduos reconheçam que não estão sozinhos em suas lutas e que o reconhecimento do problema é um passo necessário para a recuperação. O apoio social é um fator crucial que pode ajudar a quebrar o ciclo de negação e promover a aceitação.
Estudos indicam que o autoengano não afeta apenas o dependente químico, mas também suas famílias e amigos. A negação pode criar um ambiente de codependência, onde os entes queridos também minimizam os problemas e, por consequência, dificultam a recuperação do dependente. A educação sobre o autoengano é essencial para todos os envolvidos, pois ajuda a criar um ambiente de apoio que favorece a recuperação.
Em suma, o autoengano é um fenômeno complexo que desempenha um papel central na dependência química. A compreensão desse mecanismo é vital para o desenvolvimento de estratégias de tratamento eficazes. Profissionais de saúde mental e grupos de apoio devem trabalhar juntos para ajudar os indivíduos a superar essa barreira, promovendo um caminho mais claro e saudável em direção à recuperação.